O Projeto Tatu-Canastra busca entender os caminhos do animal entre o parque e áreas vizinhas para criar estratégias de preservação da espécie.
Na última quinzena de fevereiro, o Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS), por meio do Projeto Tatu-Canastra, realizou a segunda captura de um tatu-canastra macho no Parque Natural Municipal do Pombo, em Três Lagoas (MS). O animal, que pesa 40 kg e mede 1,57 m, é o maior já capturado pelo projeto em 14 anos de pesquisa.
O tatu-canastra capturado já era conhecido da equipe por ter sido registrado mais de 25 vezes pelas armadilhas fotográficas, inclusive em junho de 2022, quando os equipamentos estavam sendo instalados. Devido ao seu tamanho, a contenção e o transporte para a caixa de captura exigiram o esforço de cinco pessoas, garantindo a segurança do animal e da equipe.
A captura ocorreu na borda do parque, próxima a uma propriedade particular, o que poderá ajudar a compreender melhor os padrões de movimentação da espécie ao sair da área protegida. O biólogo e coordenador do Projeto Tatu-Canastra no Cerrado e no Pantanal, Gabriel Massocato, explica que já se sabia que o animal vive tanto dentro quanto fora do Parque do Pombo, com base em um mapa de distribuição desenvolvido pelo projeto.
“Acreditamos que os tatus estão constantemente entrando e saindo do parque, pois ele representa o maior fragmento de Cerrado da região e um dos maiores de Mato Grosso do Sul”, destaca.

Com o uso de transmissores de GPS, o objetivo do estudo é compreender os trajetos percorridos pelo tatu-canastra e identificar com precisão quais são os locais utilizados por ele ao longo do tempo — como áreas de alimentação, descanso e abrigo — tanto dentro quanto fora da unidade de conservação. Isso inclui áreas particulares, pequenas reservas e corredores naturais ao redor do parque. A partir dessas informações, será possível entender os momentos em que o animal transita entre esses espaços e, assim, criar estratégias eficazes para garantir a conectividade entre os fragmentos de Cerrado que estão fora da área protegida. Nesta nova fase do projeto, a equipe está dialogando com proprietários de terras vizinhas para estabelecer parcerias voltadas à proteção da espécie.
O fiscal ambiental responsável pela gestão do Parque Natural Municipal do Pombo, Flávio Henrique Fardin, destaca a importância da manutenção de corredores ecológicos entre o parque e as propriedades particulares. “A parceria com os proprietários é fundamental para que as áreas de reserva legal, os corredores ecológicos e as áreas de preservação permanente estejam livres de ameaças, como incêndios e a introdução de espécies exóticas”, afirma.
Além disso, o tatu-canastra não representa nenhum risco aos fazendeiros. Pelo contrário, sua presença pode ser benéfica, pois ele se alimenta de formigas e cupins, ajudando a reduzir populações desses insetos que podem comprometer a produtividade das pastagens. “Ter um tatu-canastra na propriedade é um bom negócio para todos”, reforça Massocato.
Com a instalação de transmissores de GPS, será possível obter dados mais precisos sobre os trajetos e o comportamento da espécie, além de identificar quais passagens de Cerrado são utilizadas e até onde os animais conseguem chegar. Como as áreas ao redor do parque são propriedades privadas, o acesso da equipe de pesquisa só ocorre mediante autorização dos proprietários
“Com os dados do GPS e o mapeamento dos deslocamentos do tatu-canastra fora do parque, poderemos desenvolver estratégias para minimizar riscos e garantir que esses animais não fiquem vulneráveis quando estiverem fora da área protegida. Nosso objetivo é garantir a sobrevivência da população de tatus a longo prazo”, explica Massocato.
A importância da conservação do tatu-canastra
O tatu-canastra desempenha um papel fundamental no equilíbrio ecológico e é considerado um engenheiro do ecossistema. Suas tocas abandonadas servem de abrigo e área de descanso para diversas outras espécies. “Preservar o tatu-canastra em Mato Grosso do Sul é sinônimo de preservar o Cerrado”, enfatiza Fardin.
O Parque Natural Municipal do Pombo possui mais de 80 km² de mata nativa preservada, sendo o maior remanescente de vegetação de Cerrado da região e um dos refúgios do tatu-canastra. O Projeto Tatu-Canastra no Cerrado é uma iniciativa do ICAS em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Agronegócio (SEMEA) de Três Lagoas, com o objetivo de proteger essa espécie ameaçada de extinção e promover a conservação do bioma Cerrado.